domingo, 1 de maio de 2011

EU E O PICCOLO TEATRO

Com um pouco de atraso, retorno um pouco ao assunto que me motivou a iniciar este blog. Gestão Cultural e Financiamento da Cultura. Resolvi escrever sobre a experiência realizada no Piccolo Teatro de Milão, sobretudo porque no aspecto prático vimos e aprendemos muitas coisas alí.

Teatro Grassi, sede história em 1996
Antes de mais nada convém explicar um pouco da história de como vim parar aqui. Sem dúvida nenhuma o Piccolo tem tudo a ver com isso. Separo em dois artigos. Um mais pessoal, que conta um pouco de minha história com o Piccolo Teatro. Na sequência publico outro sobre a primeira experiência de trabalho dentro do teatro que nasceu em 1947.

O ano é 1996, eu e meu colega João Luiz Fiani resolvemos dar um giro pela Itália e nossa primeira cidade a visitar foi Milão. Obviamente a primeira coisa que procuramos fazer foi assistir a um espetáculo de teatro. Foi assim que nos deparamos com o Teatro Grassi, sede história do Piccolo Teatro onde o diretor de origem judaica Moni Ovadia estava em cartaz com um espetáculo. Me lembro que foi algo memorável. Não falava uma palavra em Italiano, mas não importava. Sobretudo quando se está fazendo turismo tudo parece inovativo. Daquele dia, lembro me  que guardei o material publicado, a programação do teatro, o bilhete de ingresso e programa de sala pensando que talvez não voltaria e viver novamente aquela experiência.

Seis anos mais tarde, em 2002, venci uma bolsa de estudos da CAPES, que é o órgão que financia o aperfeiçoamento de pessoal no exterior. Naquele ano ainda durante a gestão FHC, havia um programa específico para jovens artistas. Decidi que embarcaria para Itália a fim de estudar a comédia clássica italiana, ou seja a "commedia dell'arte". Afinal já havia um pouco mais de conhecimento da língua e minhas raízes italianas chamavam-me para uma "missão".

Fava, Ferrucio, Luisa e Marino em 2003
Frequentei entre 2002 e 2003 a Escola internacional do ator cômico em Reggio Emilia, dirigida por Antonio Fava, um dos maiores entendidos no assunto. Fava me deu a oportunidade de estar em um seu espetáculo que deveria apresentar-se em Roma no final de 2003. Estávamos em agosto e eu tinha que retornar ao Brasil, para a prestação de contas do período de estudos. Combinei que retornaria à Roma em novembro para realizarmos juntos o projeto. Entretanto um pouco antes de partir decidi que estando novamente na Italia seria interessante aproveitar o tempo para tentar estagiar em um teatro. Pretendia aprender e conhecer um pouco sobre o funcionamento destes institutos na Europa.

Foi então que procurei o Piccolo Teatro e consegui agendar uma entrevista com Lanfranco Licauli, que trabalhava no marketing do teatro. Lembro-me que vim de Reggio-Emilia especificamente para este fim. Foi um encontro muito bacana em que conheci Giovanni Soresi, diretor de marketing. Ao saber que eu era brasileiro, perguntou-me se eu estava alí para fazer Arlechinno, como Marcos Bredda que naquela época tentava montar o espetáculo no Brasil, fato que aconteceu depois. O resultado da entrevista acenou a possibilidade de um estágio quando retornaria em novembro. No entanto pelo fato de eu não estar vinculado à nenhuma universidade naquela época o projeto não pode andar adiante.

Arlecchino esteve em São Paulo
em 2002 e retornará ao Rio em 2012
Já estávamos em 2004 e era o momento retornar definitivamente ao Brasil. Estava em Roma na estação de Termini, quando um folder me chama a atenção. "Master dello Spettacolo. Universidade Bocconi e Teatro Scala de Milão". Guardei o material pensando que numa oportunidade futura poderia vir a ser útil. Naquela época era muito difícil encontrar um curso do gênero, e havia ainda a possibilidade do curso ser totalmente financiado pelo Fundo Social Europeu.

Entre 2004 e 2009 sosseguei um pouco em Curitiba. Fiz muitos espetáculos como ator, diretor e passei a responder pela elaboração e gestão dos projetos culturais da Cia Máscaras de Teatro. Em 2010 a FUNARTE abre uma série de editais. Um dos quais possibilitou apresentar-me simultâneamente no Rio de Janeiro e São Paulo. Entre os editais havia um que me interessava em particular: Bolsa Residência para Aperfeiçomento no Exterior. Foi quando lembrei do folder na estação de Roma Termini. Ao procurar na internet informações atualizadas descobri que o Piccolo Teatro fazia parte agora do projeto educacional, junto com a Accademia Teatro alla Scala.


No dia em que iniciamos o trabalho no Piccolo
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Imediatamente decidi que compilaria o projeto exaltando a importância do curso ao qual estava me candidatando. Fiz um pouco de contas, visto que somente o curso custava €12000 e sabia que a bolsa não garantiria tudo. Então fui atrás de outros recursos. Na verdade ainda estou atrás... Estava no Rio de Janeiro quando soube que havia sido aprovado. Momento de decisão. Abandonar um trabalho realizado em São Paulo e Rio de Janeiro em nome de um projeto pessoal? Sim. O bonde até passa duas vezes, mas pode demorar. Era pegar ou largar. O mais penoso era pensar que perderia cinco meses de crescimento do Francisco. Mas se isso pode ajudar a garantir seu futuro vai valer a pena.

Me virando em cinco, realizei dois espetáculos que estavam por terminar o prazo de realização e parti em janeiro de 2011 para Milão. Um dos primeiros lugares que visitei foi o Piccolo Teatro. Fui surpreendido com um magnifico café no "chiostro" que acabava de ser restruturado numa parceria da prefeitura com o teatro. 

No primeiro dia na SDA Bocconi, reencontro Lanfranco Licauli, agora diretor de marketing do teatro. Em abril, quando iniciamos o trabalho no teatro encontro também Giovanni Soresi  e conto para eles a minha  história "buffa" e como nossos caminhos foram cruzados no tempo.

Com esforço lembram um pouco do dia em que estive alí em 2004. Ficam surpresos com minha "persistência" ao que respondo patrioticamente: sou Brasileiro e não desisto nunca.

Um comentário:

  1. Isabella Cavaletti1 de maio de 2011 às 08:28

    você é um foda! para mim, um guru artístico. beijos, Isabella.

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