sábado, 14 de maio de 2011

GESTÃO FINANCEIRA NO SETOR CULTURAL

Faltando exatamente um mês para um stop no Brasil decidi falar um pouco sobre o tema de nosso último exame realizado. Contabilidade, balanço patrimonial e gestão financeira. Um módulo que só de ouvir falar já arrepia qualquer mortal que não tenha muita intimidade com números.

1494, Veneza era a capital dos negócios,
a contabilidade não podia ter outra origem.

O objetivo global do módulo é fazer com que os gestores culturais tenham o máximo de informações possíveis para interpretar números contábeis e identificar os pontos onde a empresa possa melhorar seus investimentos, custos, receitas e claro sua rentabilidade.
Assim partimos de 1494 em Veneza, quando Frei Luca Pacioli inventa o primeiro sistema que é aplicado até hoje: as escrituras contábeis com partida dobrada. Depois de alguns dias desenhando as contas T e os razonetes, a fim de entender a formatação do ativo, passivo e patrimônio liquido aprendemos a elaborar o Estado Patrimonial de uma empresa. Vimos situações como amortização, desvalorização, imobilização, juros, debito com fornecedores, crédito com clientes e tantas outras.
Posteriormente aprendemos a elaborar os fluxos de caixa de acordo com a gestão da renda, investimentos e financiamentos. De forma direta e indireta. Um documento importantíssimo para avaliar o resultado do lucro ou do prejuízo que uma empresa possa ter.
Torroella de Montgrí, um castelinho pra brincar e explorar
Outro momento interessante do módulo foi quando fizemos a simulação de um plano de investimento de 3 milhões de euros na reestruturação de um castelo localizado na cidade de “Torroella de Montgrí” na região da Catalunha na Espanha e implantação de um bed & breakfast temático e cultural, com jogos de cruzadas medievais dentro do pacote. O exercício Baseando-se nas possíveis receitas e custos formatamos um “business plan” para verificar a sustentabilidade e viabilidade do projeto.  Ali entendemos que um projeto pode ser de um ou de dez milhões, mas tem de estar em pé sem depender de terceiros. Tem de ser o máximo possível sustentável.
Na parte de gestão financeira, dissecamos os balanços reclassificando-os em Gestão por Liquidez e Gestão Core Business. Onde Gestão por Liquidez nos dá os ativos e passivos de breve/longo prazo, importantes para entender como vai o caixa de empresa, e Core Business mostra se a empresa teve seu lucro determinado pela sua atividade típica ou em razão de uma boa gestão de seus investimentos financeiros.
To be Core o no Core? That is the question.
A gestão Core evidencia ainda o Capital Circulante, ou de giro. Ou seja: ATIVOS CORE menos PASSIVOS CORE se for negativo representa que a empresa arrecada no curto prazo, mas paga seus fornecedores com prazo longo. Usa este excedente de liquidez pra investir pois há uma grande capacidade de se auto-financiar sem depender de bancos que gerariam mais custos na gestão financeira.
Assim aprendemos a elaborar o principal documento de análise da saúde financeira de um empresa: o “Cash-flow”, ou fluxo de caixa que mede o auto-financiamento de uma empresa mostrando a diferença entre a movimentação do ano com aquela do ano precedente. Este documento é dividido em Gestão Core, Gestão Operativa, Gestão Financeira, Gestão Patrimonial e Caixa, o menos importante é ter dinheiro alí.
Esta divisão ajuda a entender se o resultado final de uma empresa foi determinado pela sua atividade típica ou pela venda de imóvel por exemplo. Ou ainda se a empresa não teve o lucro espetado simplesmente por que está investindo. A diferença é muito grande e pode mudar complemente a forma como enxergamos a saúde de uma empresa.
Analisamos ainda uma série de balanços de empresas do setor cultural, como o Teatro Scala e o Teatro Reggio de Torino. Em especial fizemos algumas comparações com empresas americanas, como a San Francisco Opera House. Pudemos constatar como a capacidade de auto-financiamento das instituições culturais americanas é muito grande. Detentoras de um patrimônio originário de doações, na maior parte das vezes intocável e protegido por lei, elas conseguem gerar um receita gigantesca que cobre toda a atividade operativa e contribui na parte core. Assim, a empresa  fica menos dependente de recursos públicos e patrocínios. Além de manter um budget constante imune às crises inclusive as próprias crises financeiras.
Royal Opera House onde assistiremos WERTHER, a ópera
Veremos muito ainda sobre isso. Na próxima semana vou estar em Londres em um programa de visita aos principais teatros do mundo: National Theatre, Royal Albert Hall, Royal Opera House, Royal Shakespeare Company, Globe Theatre e BBC Televison.
Em Londres, prometo que vou tentar fazer uma cobertura diária, pelo menos com fotos e algumas frases. Portanto me acompanhem!!!
No retorno teremos ainda a International Summer School que este ano será sobre as políticas de incentivo à cultura nos Estados Unidos.


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