sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

POLÍTICAS CULTURAIS E O TERCEIRO SETOR

os acontecimentos a seguir aconteceram entre 24 e 28 de janeiro de 2011

A segunda semana já começou cansada. Fui ver meu amigo Marco Pisano em Torino no final de semana e perdi o trem de volta, voltei num trem "schifoso", uma confusão. Enfim, dormi pouco e iniciamos uma semana turbulenta e muito comprometida. Alex Turrini, professor de políticas culturais começou a semana a mil teorizando e aterrorizando sobre bens públicos, modelos de financiamentos, distritos culturais, barreiras de acesso à cultura, direito de autor, planificação da cultura e principalmente a tranformação dos entes líricos italianos em fundação de direito público-privados. Acentuou ainda a diferença entre o estado que adquire cultura sendo dono de um teatro por exemplo e o estado que gera cultura sendo também produtor do teatro. Tudo isso em uma manhã de segunda-feira.

Depois da pausa  tivemos a grande aula de nossas vidas. Ao analisar um artigo de jornal que pregava o fim do financiamento público à cultura Turrini nos surpreendeu com a Malatia de Beumol e Bowan. Ou seja, explicou em linguagem economica porque o setor cultural é e sempre será dependente do setor público, ou privado. Assunto que trato no post do Teatro Guaira. Considerou ainda que o desenvolvimento de um capital social, uma identidade nacional e da qualidade de vida aliados ao setor cultural  "stagnante"  tornam o intervento público fundamental para a sobrevivência do sistema cultural. Vimos ainda as modalidades de financiamento: Direto, indireto, à oferta ou à demanda e com que grau de descentralização de descisão: local, regional, federal. Ainda pudemos dar uma pincelada no conceito de "arms arms length"  (post do Guaira)  e na diferença entre os três "E"s: Economia, Eficácia e Eficiencia. Onde eficácia é a capacidade de atingir objetivos e eficiência a capacidade de atingir os mesmos objetivos com economia de recursos. Ou seja: a eficácia pode ser cultural ou social, mas a eficiência que administra os recursos sempre tem um caráter econômico.

No dia seguinte seguimos com o "econo-man-show" Alex Turrini que abordou os aspectos de valutação de uma política cultural e nos apresentou os autores Stiglier, Becker, Bourdieu e Peterson, teóricos que explicam como a cultura faz bem. Além é claro das valutações destes benefícios através dos sistemas de pesquisa WTP (Willngness to pay), TC (Travel Cost), HP (Hadonic Pricing) e CVM (Countingent Valution Method) que avaliam o impacto econômico de um evento cultural. Descobrimos que em um festival qualquer de coisa qualquer seu valor é sempre medido  através da despesa direta do publico A (excluindo gastos com o evento e aqueles que já aconteceriam naturalmente naquele local) multiplicando-se por um determinado multiplicador B (variante estudade pelo comercio) e posteriormente somando o resultado à própria despesa direta A chega-se ao valor real de ganho de um determinado festival C. Após a pausa deste dia tivemos uma aula sobre o setor público italiano e analisamos o caso Horse. Mais um superintendente de teatro (como no caso Martone em Roma) em crise com orquestra, coro,  ballet e conselho de cultura. Finalmente chegamos à conclusão de que não há governance se não houver política. Mas também não há cultura, onde não há governance. Então, passemos à quarta-feira...

Professor Pasquale Seddio, pra quem é brasileiro já vem em mente: "nossa lingua portuguesa", mas nada a ver. Seddio é um dos maiores entendidos em assuntos do terceiro setor.  Na Italia as questões culturais giram todas em torno do setor não lucrativo. Presidente de fundações e economista de formação Seddio é responsável por elaborar planos  e projetos de apoio e financiamento além de critérios de avalição de projetos em diversas fundações. Começou mostrando que o terceiro setor detém na Itália cerca de 50 bilhões de euros em patrimônio que geram 1,6 bilhões por ano de investimentos sociais, culturais, educacionais, científicos e sanitários. Mostrou que o conceito de não lucrativo diferencia muito do conceito não rentável e que o terceiro setor converte valores como solidariedade, dedicação, altruísmo em outros valores como: sociais, economicos e individuais. Pudemos ver as diferenças entre Fundação, Associação, Cooperativa, Comissão, Fundação de Participação e outros sistemas. Entre elas as fundações que destinam dinheiro, e as fundações que recebem dinheiro. Vimos os pequenos com a figura do "presidente faz-tudo" e os grandes com o "presidente-governante" que assina e basta. Além disso pincelamos o modelo cíclico de Wood onde algumas empreas "no profit" iniciam decolam, atingem a atmosfera e retornam pra manter constância e outras que não saem do chão. Por fim, vimos os fundos europeus estruturais e setoriais, que distribuem 370 bilhões de euro em períodos de quatro e quatro anos para o desenvolvimento de diversas áreas, claro que financiando apenas parte do projeto. Além disso Seddio revelou ser o responsável pela criação do desafio X x Y.

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