Na quinta feira, 27 de janeiro (dia da memória), recebemos a visita de Andrea Rebaglio, responsável pelo setor de financiamentos em cultura da FONDAZIONE CARIPLO. E aqui tenho que abrir um parenteses para explicar o papel destas fundações no financiamento à cultura na Itália.
Na década de 90 a Itália privatizou as chamadas "Casse di Risparmio" ou seja, as Caixas Econônimas Estaduais. CARIPLO na verdade significa Cassa di Risparmio del Piemonte e Lombardia. Neste período através da lei Amato-Carli todo o patrimônio gerado por cada uma destas privatizações constituiu uma fundação de direito privado. A CARIPLO que atua predominantemente na Região Lombardia é uma das maiores e possuí um patrimonio de 6,5 bilhões de euros. Para se ter uma idéia isso é mais ou menos seis vezes o patrimonio (e rombo) do Grupo Silvio Santos. Todo este patrimônio é investido de forma a gerar uma verba anual de 220 milhões de euros destinada à ações culturais, ambientais, educacionais e sociais. Hoje pode-se dizer que esta fundação é o principal agente fomentador tendo investido no ano passado mais de 66 milhões de euros em cultura. Muito mesmo se pensarmos que a região Lombardia em 2010 investiu algo como 25 milhões de euros. Perguntar não ofende. No Brasil o que foi feito do dinheiro da venda dos bancos estaduais como o Banestado?
Bem, Rebaglio explicou um pouco do funcionamento dos editais que a CARIPLO abre anualmente. Mostrou que empresas não lucrativas e até mesmo prefeituras podem pleitear os recursos que bancam entre 40 e 70 % dos projetos. Um dos principais editais que muito me chamou a atenção foi justamente o "Distritos Culturais" que financia projetos culturais em zonas urbanas com foco em arte e cultura. Pensei na hora no nosso Largo da Ordem, o quadrilátero das artes em Curitiba. Ou na Roosevelt em São Paulo. Depois mencionou a transformação gradativa de apoio direto através de editais. Hoje o Scala ou o Piccolo têm parte de seus custos cobertos diretamente pela CARIPLO, que pretende ao longo do tempo avançar mais através do sistema de editais e menos através do repasse direto.
Bem pra terminar esta longa semana divida em dois "posts" nada como falar sobre a sexta-feira em que conhecemos Anna Merlo. A mais elegante professora de toda SDA Bocconi. De um carisma e educação extraordinários esta simpatia em pessoa veio nos apresentar o mundo dos eventos. Do latim: "eventus" vir pra fora. Os eventos devem ser únicos, afinal qualquer coisa que acontece pode ser um evento. A primeira "virada cultural" ou noite-branca da história mundial aconteceu em 1511 em Fondo Valle no Valle d'Aosta. Merlo mostrou que a lógica de processo ou repertório é diferente da lógica de projeto e que cada vez mais o público quer ser protagonista neste mundo onde os museus de hoje são as catedrais de ontem. É o chamado marketing emocional ou "experiencial".
Enfim pra não tornar o assunto exaustivo Merlo nos propôs uma sessão do filme Vattel com Gerard Depardieu. Uma verdadeira lição de gestão de eventos onde pudemos separar o manager do artista e dos técnicos além de observar que a qualidade técnica (artista) é diferente da qualidade percebida (público).
Assim além de conhecer o seu público é preciso saber administrá-lo, rompendo barreiras cognitivas, informativas, psicológicas, economicas e de distribuição. Por fim nos apresentou a plataforma WBS - Work Breackboard Structure, na qual se baseiam praticamente todos os formulários e projetos culturais e apontou que devemos estar atentos aos elementos críticos para administrar um evento cultural. Os parâmetros de custo, qualidade e tempo definem tudo aquilo que altera o resultado final de um evento. Alterar uma das varíaveis sempre vai mexer com a outra em um sistema que está rigidamente interligado. Assim devemos estar atentos com a "Balance Scorecard" que é definida como um conjunto de indicadores de parâmetros que indica aquilo que é critico e que deve ser controlado dentro de um evento cultural.
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