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A TEMPESTADE, NO TEATRO ELFO |
TEATRO EM MILÃO - Tenho frequentando mais teatro em Milão do que em Curitiba. Não que seja uma novidade exatamente, afinal quem me conhece sabe muito bem que dificilmente vou ao teatro. Confesso que tenho uma boa justificativa pra isso. É dificil para uma pessoa que passa o dia dentro de um teatro e muitos finais de semanas por ano em cima do palco ter vontade de sair de casa para ir assistir a um espetáculo. Creio que pra poder apreciar um espetáculo com isenção você tem que estar um pouco fora de cena, sem "figurino e maquiagem". Assim ir ao teatro em Milão quebra um pouco a minha rotina, já que ele não faz parte dela.
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Além do Teatro alla Scala, que frequentamos quando vamos aos ensaios gerais das óperas, tenho sido um "cliente fiel" de dois teatros Milaneses. O Piccolo Teatro e o Teatro Elfo Puccini. Sem sombra de dúvida, estes dois complexos, cada um com suas três salas cada, explicam bem como funciona o sistema da "prosa" (teatro falado) em Milão. O Piccolo como teatro estável de iniciativa pública e o Elfo-Puccini como teatro estável de iniciativa privada representam, segundo o meu ponto de vista, um padrão de excelência de serviços e de espetáculos que atende perfeiramente a teoria do professor Salvemini na relação instituição-artista-público.
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Além do Teatro alla Scala, que frequentamos quando vamos aos ensaios gerais das óperas, tenho sido um "cliente fiel" de dois teatros Milaneses. O Piccolo Teatro e o Teatro Elfo Puccini. Sem sombra de dúvida, estes dois complexos, cada um com suas três salas cada, explicam bem como funciona o sistema da "prosa" (teatro falado) em Milão. O Piccolo como teatro estável de iniciativa pública e o Elfo-Puccini como teatro estável de iniciativa privada representam, segundo o meu ponto de vista, um padrão de excelência de serviços e de espetáculos que atende perfeiramente a teoria do professor Salvemini na relação instituição-artista-público.
Convém lembrar que ambos são teatros convencionados com a Prefeitura de Milão. Ou seja fazem parte dos 17 teatros que recebem anualmente, e segundo critérios específicos, recursos que compõem a verba anunal para gestão do espaço. Verba que complementada com os recursos da Região Lombardia, Editais das Fundações Bancárias e do Fundo Único do Espetáculo, patrocinadores privados para as salas, patrocinadores privados para os projetos, receita de bilheteria e locação das salas compõem o budget anual, que torna possivel os teatros estáveis existirem de forma decente na Itália.
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Três horas de espetáculo que me prenderam a atenção. No espetáculo não há uma única inserção musical. Texto puro e denso. Uma montagem referenciada no teatro alemão dos anos 70. Muito interessante não fosse a idéia, um pouco datada, de fazer as transições e mudanças de cena com luz de serviço. Tal recurso ressalta a debilidade de ação coreográfica da contra-regragem e que nada acrescenta à beleza estética da obra cênica.
A TEMPESTADE - Em uma quinta-feira qualquer pude conhecer o complexo multi-salas chamado "Teatro Elfo-Puccini" onde assisti "A Tempestade" de Shakespeare. Um espetáculo extremamente preciso, limpo e coerente. Inclusive com o fator político do qual o texto trata, mas que dificilmente é explorado por quem não conhece a história da Itália e de seus vários reinados. O aspecto técnico da sala de 600 lugares contribui muito para a limpeza e precisão da montagem. A personagem de Ariel entra e sai suspensa por um cabo de aço silenciosíssimo, além de uma bela sonoplastia com recursos de última geração. Não bastasse isso, um ciclorama muito bem iluminado acaba por criar efeitos de luz afinados com a precisão do um espetáculo que talvez só peque por ser muito correto. Mas que mal há? Afinal o "feedback" pretendido pelo texto de Shakespeare é muito autobiográfico e uma montagem que traz o grande ator italiano como Umberto Orsini no papel principal não poderia aventurar-se em mares nunca antes navegados.
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Além disso toda a ação parece acontecer dentro de um circo de periferia todo em tons vermelhos. Ferdinando Bruni, um dos fundadores da companhia e do Teatro Elfo reveza-se nos papeis de Wilde, Erode e Iokanaan. Enzo Curcurù nos papel de um tipo de Apresentador, Soldado Siriano e de Erodíade, enquanto Salomé é interpretada por Alejandro Bruni Ocaña.
Uma montagem bastante coerente com a proposta. Quando se cria um conceito de espetáculo, mantendo o mesmo alinhado com o público que compra a idéia fica dificil errar. Em alguns momentos a peça me lembrou um pouco dos espetáculos do amigo César Almeida, sobretudo na exuberância e ousadia dos figurinos e na própria proposta. Em outros me fez vir em mente alguma coisa dos Satyros em São Paulo. Como o despojamento de uma lua feita de isopor e brilhantina, ou a dança de Salomé dentro de em um foco feito de efeitos psicodélicos e com uma música muito cafona. Lamento apenas não haver um efeito para a cabeça cortada de Iokanaan, mesmo assim o diálogo entre Salomé e Wilde tornam o final uma homenagem ao autor. Obviamente chama a atenção o fato de Salomé ser interpretada por um homem, mas algumas correntes costumam dizer que a personagem foi criada para ser um alter ego do próprio Wilde para quem "cada um sempre mata aquilo que ama".
Uma montagem bastante coerente com a proposta. Quando se cria um conceito de espetáculo, mantendo o mesmo alinhado com o público que compra a idéia fica dificil errar. Em alguns momentos a peça me lembrou um pouco dos espetáculos do amigo César Almeida, sobretudo na exuberância e ousadia dos figurinos e na própria proposta. Em outros me fez vir em mente alguma coisa dos Satyros em São Paulo. Como o despojamento de uma lua feita de isopor e brilhantina, ou a dança de Salomé dentro de em um foco feito de efeitos psicodélicos e com uma música muito cafona. Lamento apenas não haver um efeito para a cabeça cortada de Iokanaan, mesmo assim o diálogo entre Salomé e Wilde tornam o final uma homenagem ao autor. Obviamente chama a atenção o fato de Salomé ser interpretada por um homem, mas algumas correntes costumam dizer que a personagem foi criada para ser um alter ego do próprio Wilde para quem "cada um sempre mata aquilo que ama".
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