sábado, 5 de março de 2011

UM PAPO COM O MAESTRO

No domingo passado "esbarrei" meio sem querer no blog  http://semibreves.wordpress.com/ de responsabilidade do Maestro John Neschling. Um determinado post falava da crise dos teatros lirico-sinfônicos italianos com o corte de parte do FUS fundo único para o espetáculo. Resolvi deixar um comentário e qual não foi minha surpresa ao receber um e-mail pessoal do maestro me pedindo maiores informações. 

Caro Marino Galvão,
Se puder, mande-me mais informações sobre a sua atividade e seus estudos na Itália. Quanto tempo fica, etc...
Obrigado
John Neschling

Procurei imediatamente reunir algumas informações e encaminhar para ele. Afinal no dia 15 completo dois meses de muito estudo, que tem gerado muito assunto. 

Assunto que inclusive tenho encaminhado para a veículos em Curitiba, em epecial para a Coluna do leitor da Gazeta do Povo e para o Editora Executiva do Caderno G, Marleth Silva. Confesso que tem sido sempre em vão. Apesar das informações serem valiosas me parece que não há interesse em tal material.

Quando falamos do Teatro Scala e sobre acompanhar de perto um pouco de sua atividade, perceber todo o recurso técnico disponível em um palco cênico que trabalha 24 horas por dia em três turnos que se reveza na montagem desmontagem das óperas é algo impensável com os recursos disponíveis no Brasil.

Não é a toa que na semana passada a diretora do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Carla Camurati esteve com uma comitiva visitando a Accademia Teatro alla Scala e o laboratório Ansaldo, do qual tratei no post entre Óperas e Bondes. Urge uma necessidade de qualificação de pessoal em todos os teatros brasileiros. Não só isso o grau de excelência artística versus relação com o público é medido através de um grafico de viabilidade que mostra a força de uma instituição cultural. Onde o equilíbrio entre as duas variáveis é a meta principal de qualquer gestor da cultura que deve zelar pela qualidade e pela quantidade ao mesmo tempo.

De qualquer forma contei ao maestro que a crise afetou sim a gestão dos teatros. Muito discutimos isso em aula vimos alguns números e chegamos à conclusão que os recursos FUS (Fondo Unico per lo Spettacolo), em valores aproximados, eram de 350 milhões de euros em 1985 caiu para 185 milhões de euros em 2009 (levando-se em conta a inflação do período já que em valores nominais o FUS está hoje em torno de 400 milhões de euros).

 
Se levarmos em consideração o investimento "per - capita" do FUS temos a seguinte informação: 14,53 euros/habitante em 1985 e 6,82 euros/habitante em 2010. Usando uma comparação que vimos em aula os italianos tinham em 1985 à disposição cultural "una cena in pizzaria" e agora tem "un pranzo da Mac Donalds". 

Para um brasileiro onde a produção lírico-sinfonica é tão escassa é difícil perceber o problema a fundo, pois apesar destes teatros receberem a verba repassada pelo FUS, não sobrevivem exclusivamente dela. Existem outras fontes como Região, Província, Município, Fundações de origem bancária e patrocinadores privados que abatem parte dos incentivos através do artigo 38 da lei 342/00. Além das bilheterias e dos assinantes que, no caso do Scala, são muitos.

Finalizei ressaltando que no mínimo uns 8 teatros municipais ou estaduais brasileiros deveriam merecer uma legislação específica com a atenção de todas as esferas de governo e do setor privado. O teatro que mais perto chega à um nível mínimo de eficiência é o Palácio das Artes em Minas Gerais,
 que vem alcançando resultados positivos numa nova fase de start up, que estudamos no Ciclo di Vida Organizacional o chamado Ciclo de Wood aplicado à várias organizações .

Coincidentemente esta semana estudamos o assunto leadership em institutos que literalmente enfretaram crises e agora vivem também uma nova fase de startupRoyal Opera House, Stuttgart State Opera,  Stratford Shakespeare Festival, Comédie Française, Opéra de Montréal, Montréal Symphony Orchestra.

Mais tarde John Neschling me respondeu...

Caro Marino,

Antes de mais nada, parabéns por essas atividades que irão certamente qualificá-lo para trabalhos importantes no Brasil. É exatamente isso que me interessava saber. Se, por acaso, eu tiver, no futuro próximo, a oportunidade de voltar ao Brasil para realizar um trabalho de fundo no cenário lírico, queria saber das pessoas qualificadas com quem eventualmente poderia contar nesse trabalho. Afinal de contas há pouquíssima gente com essas qualificações no nosso País.
Mantenha-me informado sobre suas atividades!
Um abraço,
JN

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