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Ricci/Forte, ícones do teatro de inovação italiano |
Duas semanas atrás estive novamente ao Elfo Puccini, sala Fassbinder pra assistir "Troia's Discount" espetáculo da Cia Ricci/Forte. Stefano Ricci e Giani Forte respectivamente diretor e autor do espetáculo. A dupla é considerada pela crítica italiana como intensa, feroz, inquetante, polêmica e forte. Concordo. Do espetáculo saí pensativo e chocado pelas imagens que vi. Será?
Com um texto muito bem construido e cenas milimetricamente pensadas para público alvo, na sua maioria LGB, o espetáculo consegue uma cumplicidade com cada espectador. Ao início se vêm os atores com luz de serviço, (uma moda viral que muito me chateia pois acaba com a possibilidade de estética do teatro) entre eles dois "ragazzi" completamente nús dentro de carrinhos de supermercado.
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Os rapazes se vestem pra trágica "balada" |
Durante a peça figuram os devaneios de um transexual atacado ao soro hospitalar que vestido com a camisa da "azzurra" e com a coroa do burguer-king mais parece a própria "regina" Itália pedindo socorro. Uma "ragazza" magra e com cabelos curtos que conta a sua história de abuso sexual.
E uma "donna" de meia idade que sofre com a falta de desejo do companheiro. Todas estas histórias vão se intercalar no final com a morte de um dos rapazes depois de cometer atrocidades para se autoafirmar, como colocar fogo em um supermercado e descobrir depois que sua única necessidade era relacionar-se sexualmente com o amigo incendiário.
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Colpiram-me o desenho de cena e o texto, que discutia o amor e fazia uma crítica à sociedade consumista italiana. A interpretação idem. Uma forte entrega dos atores. A direção em sintonia com todo o resto soube aproveitar recursos que se encontram no super-mercado da esquina para evidenciar a selvageria consumista contemporânea, como quando a "ragazza" magra completamente nua vai parar dentro do carrinho de mercado e é sufocada por uma montanha de "korn-flakes".
E uma "donna" de meia idade que sofre com a falta de desejo do companheiro. Todas estas histórias vão se intercalar no final com a morte de um dos rapazes depois de cometer atrocidades para se autoafirmar, como colocar fogo em um supermercado e descobrir depois que sua única necessidade era relacionar-se sexualmente com o amigo incendiário.
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Colpiram-me o desenho de cena e o texto, que discutia o amor e fazia uma crítica à sociedade consumista italiana. A interpretação idem. Uma forte entrega dos atores. A direção em sintonia com todo o resto soube aproveitar recursos que se encontram no super-mercado da esquina para evidenciar a selvageria consumista contemporânea, como quando a "ragazza" magra completamente nua vai parar dentro do carrinho de mercado e é sufocada por uma montanha de "korn-flakes".
Tudo era bom. Mas não era ótimo. Talvez porque venho de um país onde a miséria ainda impera. Entendo todos os dramas da peça. Mas ainda não consigo entender como dois jovens classe média vestindo roupas de grife vão incendiar um supermercado.
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Será que não entendo? Outro dia li no jornal que um jovem classe média de 17 anos foi espancado por 5 euros e ficou 20 dias no hospital. Isso em plena Via Monza com pessoas que passavam e nada faziam.
Na volta do espetáculo no metrô de Milão refleti: o PIB brasileiro encostou no PIB italiano. São 2,04 trilhões. Mas somos 5 vezes a população da Itália.
Será que não entendo? Outro dia li no jornal que um jovem classe média de 17 anos foi espancado por 5 euros e ficou 20 dias no hospital. Isso em plena Via Monza com pessoas que passavam e nada faziam.
Na volta do espetáculo no metrô de Milão refleti: o PIB brasileiro encostou no PIB italiano. São 2,04 trilhões. Mas somos 5 vezes a população da Itália.
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Tenho medo de nosso futuro. Tenho medo do país rico e sem pobreza onde uma classe emergente sobe aí. Com ela vem os sedentarios pelo consumo. Sem educação, sem conceitos, sem valores. Se antigamente temíamos os jovens que roubavam pra comer e agora vamos temer aqueles que incendeiam pra zoar...
Tenho medo de nosso futuro. Tenho medo do país rico e sem pobreza onde uma classe emergente sobe aí. Com ela vem os sedentarios pelo consumo. Sem educação, sem conceitos, sem valores. Se antigamente temíamos os jovens que roubavam pra comer e agora vamos temer aqueles que incendeiam pra zoar...
P.S. Gostei de "Troia's Discount", mas a história não acaba aqui...
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